Não Provoque
Em que lugar a gravura se encontra hoje dentro da arte contemporânea?
Natali Tubenchlak escolhe a gravura como
linguagem, ao mesmo tempo como resistência e deboche. Em um
mundo onde a produção de imagens se tornou instantânea e
efêmera, ao oposto a gravura em metal requer uma técnica e
um cuidado ao traçar o desenho, uma desaceleração do tempo
na construção da imagem.
Em suas séries “lambidas” e “chupadas”, Natali se
apropria de revistas pornográficas dos anos 70, há uma busca
por um ato que vai sofrer sua intervenção, o objeto do prazer
vai sair de cena para então virar uma outra imagem. Resta o
rosto e a boca, lugar onde acontece a fala, gritamos,
chupamos, nos alimentamos e onde damos e sentimos prazer.
Em uma letra de música de 1980, Rita Lee declara: “Por
isso não provoque é cor de rosa choque”, o adjetivo choque,
que ao mesmo tempo é a intensidade da cor, é também um certo
sinal do empoderamento feminino. A cor surge como escolha
irônica, num mundo heteronormativo, onde o rosa é usado para
expressar o universo feminino, a tal cor de “mulherzinha”,
acaba virando uma discussão de gênero. Essa dualidade está
também presente nos trabalhos apresentados nessa exposição,
que vão de encontro a uma ordem estética, mas também política
que muitas vezes passam pela ironia.
A gravura em Não provoque ganha novos fôlegos, não só
pelas imagens que são impressas, mas também pela escolha da
cor. Discutir o suporte da gravura pelo sexo e a orgia, em
um Brasil cada vez mais careta e retrógrado, é um ato
político. Nas palavras da própria artista, “um
ato crítico às micropolíticas que permeiam nosso dia-a-dia. O erotismo
resistindo ao poder e a política submetida ao desejo.”
Omar Porto, novembro de 2016